Texto publicado originalmente na revista iDeia Design, pelo nosso sócio-diretor Calebe Bezerra.
Certa vez, em uma entrevista de emprego, disse ao meu ex-futuro-chefe que “eu não queria pensar se é amarelo ou vermelho, eu queria pensar nas maneiras de resolver o problema”. Mais tarde, ele me contaria que aquela foi a razão pela qual ele resolveu me contratar. Até hoje sou grato por ele ter me dado a oportunidade pensar mais no “o que” do que no “como”.
O trabalho de design pode ser altamente subjetivo a olhos crus. Pegue uma escolha tipográfica, por exemplo. Existe uma grande parcela técnica no processo de escolher um tipo de letra para cumprir determinada função. Mas não vemos um leigo dizendo por aí “nossa, que fonte bem escolhida!”.
Tomando emprestadas as palavras do eterno tenor e Maestro Placido Domingo:
“Algumas pessoas não sabem o que você está fazendo. Mas, certamente, elas sentem a diferença”.
Escolha técnica x Escolha casual
Um dos desafios da relação cliente + designer é valorizar a escolha técnica, com forte embasamento teórico, e evitar a escolha casual, que é aquela descompromissada, frívola, facilmente discutível.
A escolha técnica não é uma opinião pessoal. É o resultado de um processo com metodologia e conhecimento técnico. Ela começa na investigação profunda do problema de design a ser resolvido, passa pelo processo criativo e deságua no anteprojeto.
A escolha casual pode ser baseada em assunções do tipo “hoje ninguém tem tempo pra ler”, “todo mundo busca a ascensão social”, “vermelho representa sangue” e outras pérolas. Aliás, quantas dessas frases você já ouviu nos últimos dias?
Outra armadilha das escolhas casuais é quando o designer se coloca numa posição de decidir pelo cliente, arcando com os ônus, e nunca com os bônus. “Qual sobrenome eu uso no cartão?”, “imprimo ou mando por e-mail?” e o sempre temido: “você gostou?”. Sim e não são duas respostas erradas. Eu prefiro perguntar: “Quem tem que gostar?”.
Não opine de forma superficial
Abro um parêntese para os processos de design autorais e fruitivos, quer dizer, aqueles em que o recurso estilístico impera. Nestes, a “pegada” do designer acrescenta valor ao projeto. Há espaço, mercado e desejo por peças lindas de morrer, para quem assim as considere. Note uma diferença clara: uma coisa é conceber um estilo visual com propósito definido, outra é dar palpite.
Então, se você é um designer, aqui vão meus dois centavos: não se coloque em posições de dar palpite. Em bom português, não venda sua opinião de forma superficial. Coloque-se na posição confortável de ter referências para trabalhar, dados em que se basear. Incentive seu cliente a coletar dados, ou aprenda como fazê-lo e ofereça esse serviço a ele.
Do outro lado da mesa, se você é um comprador de design, vou apenas deixar essas palavras fortes de Todd Yellin, VP de Inovação de Produto no Netflix, quando perguntado sobre como toma decisões:
“Se todo mundo aqui só tem opiniões, então eu prefiro ir com a minha”.
Se você não leu nas entrelinhas: traga dados para a sua conversa! Estude, teste, pesquise, comprove. Invista em conhecer o seu cliente, não como um CPF, mas como a pessoa que ele realmente é, com as escolhas racionais e irracionais que ele, como toda pessoa, faz.
E é claro: se for só uma questão de opinião, tenha a sua!