Em tempos de avanço acelerado do conservadorismo, notícias negativas em jornais de todo o mundo e uma série de problemas ambientais acontecendo, o pessimismo sobre o futuro parece ter tomado conta da maioria das pessoas.

A sensação de que o mundo está vivendo um péssimo momento e que a crise global tende a se agravar é percebida de jovens a idosos em diferentes regiões do mundo. Nesse cenário de crise econômica, política e socioambiental, não parece existir um problema específico a ser atacado, mas uma grande nuvem de problemas aparentemente sem solução.

Em meio a esse contexto cheio de incertezas, e marcas parecem perdidas, sentindo-se pressionadas sem saber como se posicionar. No entanto, esse pode ser um momento de oportunidades. Basta alterar a forma de olhar.

Antigamente, as coisas eram melhores

O mundo vive de fases. Ondas alternadas de avanço e retrocesso podem ser percebidas em toda a história. No entanto, não é raro associar pessimismo e saudosismo. Em parte isso se dá por uma idealização do passado: a cultura pop, em geral, é ótima em fazer isso. Filmes, séries, música e moda estão sempre resgatando elementos típicos de outras eras e dando a eles uma roupagem de perfeição embalada em nostalgia. Um exemplo recente é a série Stranger Things, da Netflix, que acabou de lançar sua segunda temporada. Baseada em dados, a série recriou o universo dos fílmico dos anos 80: na pequena cidade de Hawkins, um grupo de grandes amigos enfrenta perigos sobrenaturais. Valores como amizade, honestidade, coragem e inocência são reforçados o tempo todo na série, que faz referências constantes a ícones de uma geração, como músicas, videogames, gibis e gírias da época.

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Dustin, Mike e Lucas, personagens principais de Stranger Things, fantasiados de Caça Fantasmas para o Halloween

No entanto, mais do que estar preso ao passado, o pessimismo pode ser um grande catalisador de mudanças fundamentais. Tempos como os que estamos vivendo evidenciam insatisfações e obrigam as pessoas a saírem de sua zona de conforto e pensar em novas soluções. Assim, vemos que o pessimismo pode estar mais ligado ao futuro do que conectado ao passado.

Este é o motivo pelo qual estamos vendo novas proposições em diversos campos: na forma de trabalhar, nas ações políticas, nos relacionamento interpessoais, nos cuidados com a saúde.

Quem é o agente de mudança?

Nos anos recente, especialmente depois da crise de 2008, a desilusão com instituições e governos vem crescendo cada vez mais. Como resposta a isso, as pessoas vem se organizando em pequenas comunidades de gestão horizontal, com diferentes objetivos, pensando nos problemas locais como forma de modificar os problemas globais.

Para além disso, também há uma crença de que as respostas podem vir de outras organizações, como as empresas. Os consumidores tornaram-se atentos a como as empresas e marcas se portam diante do mundo. Junto com a experiência do cliente, eles também querem apoiar empreendimentos que corroborem com os seus valores e, principalmente, que participem de soluções não diretamente ligadas aos seus produtos.

Para muitos, o agente de mudança que precisa existir agora virá das iniciativas de pessoas comuns e de negócios que não tem ligação alguma com as esferas governamentais. Juntos, esses atores tem potencial de criar uma verdadeira revolução na maneira como vivemos e nos relacionamos.

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Após o movimento popular Occupy Wall Street, a estátua Fearless Girl foi instalada em frente ao touro que representava a rua.

Aqui no Brasil, uma empresa que está a frente de iniciativas interessantes é a Natura. Criou embalagens com refil, que além de baratearem o produto, geram menos lixo. Na linha Ekos, desenvolveu embalagens que reaproveitam PET reciclado pós-consumo, gerando 72% menos emissões de gases do efeito estufa. Em 2011, lançou o Programa Amazônia, que auxilia no desenvolvimento de pequenos negócios sustentáveis na região. Em 2014, a distribuição de riqueza para comunidades beneficiadas pelos programas da Natura girou em torno de 8 milhões de reais.

Como as empresas podem se envolver com a mudança

O cenário é instável e o medo de caminhar neste terreno movediço é grande. Mas quem se arriscar e sair na frente tem grandes chances de se destacar nesse novo mercado que está se criando. Para isso, é importante reconsiderar alguns velhos preceitos.

Repense o consumidor

A cada dia, as pessoas preocupam-se mais com assuntos como sustentabilidade, igualdade social e de gêneros e condições dignas de trabalho. Isso se reflete no hábito de compra. Agora, é uma preocupação saber de onde vem os produtos consumidos, quais as condições de trabalho envolvidas, como é feito o descarte de resíduos ou os testes. A geração dos millennials é especialmente sensível a responsabilidade social, como aponta o estudo da consultoria americana A.T. Kearney.

Para além do óbvio, o consumidor espera uma empresa sensível a estas questões e realmente preocupada com os problemas que existem em seu entorno. Significa também pensar sobre seus parceiros e fornecedores. É essencial passar a ver o cliente como parte também da cadeia produtiva e de seu entorno. A partir disso, trata-lo com o respeito que ele espera como consumidor e como parte da cadeia de produção.

Repense as lideranças

Neste momento, é possível obter uma quantidade quase infinita de informações. E elas irão mudar quase que diariamente. Apesar da base de dados ser confiável e ser rica em detalhes e números, as mudanças são rápidas. Ações e reações acontecem de maneira viral, quase instantânea e é praticamente impossível analisar uma grande quantidade de dados em um curto espaço de tempo. Por isso, mais do que a capacidade de processar informações e tomar decisões, o líder hoje precisa saber ouvir, compartilhar e aprender.

É necessário saber lidar com vozes diversas dentro da equipe e aprender a ouvir novos pontos de vista, criando soluções reais para dentro da empresa, mas também problemas que discutimos ao longo deste texto. Dentre os líderes também deve existir diversidade. De nada adianta uma equipe com boa taxa de representatividade se quem comanda o barco tem sempre o mesmo perfil. Abrir oportunidades para que minorias assumam lideranças é uma forma de se sensibilizar e criar soluções inovadoras.

Representatividade, sexismo e a atenção do público

Em agosto deste ano, vazou uma carta de dez páginas de um engenheiro do Google criticando a presença de mulheres na tecnologia e as políticas progressistas da empresa. O escândalo foi parar em jornais de todo o mundo. A vice-presidente de diversidade da empresa, Danielle Brown, rapidamente se manifestou, admitindo que existem problemas internos, mas que é necessário discuti-los para provocar a mudança. O funcionário foi demitido.

O Facebook, que todos os anos libera um relatório sobre a diversidade da empresa, recebeu duras críticas em janeiro deste ano por não conseguir cumprir suas metas de igualdade devido ao fato que a decisão final cabe a um pequeno grupo de gestores: homens, brancos e heterossexuais. Ao perceber essa falha, a empresa mudou sua postura e apresentou melhores resultados em 2017.

Um último exemplo, muito interessante, foi o caso da Coca-Cola Brasil. A empresa criou uma ação interna para o Dia Do Orgulho LGBTQ+, o Essa Coca é Fanta, e a ação viralizou. Apesar da iniciativa ter sido bem recebida pela comunidade LGBTQ+, o público em geral notou que os responsáveis pela ação eram todos homens e brancos. Isso fez a Coca-Cola repensar algumas políticas internas e criar comissões internas de igualdade racial e de gênero, que trabalham em conjunto para criar ações de igualdade que contemplem a todos.

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Lata da ação Essa Coca-Cola é Fanta, e daí?

O papel do líder

O papel do líder não é mais gerar ordens, mas compilar ideias e fazer com que gerem resultados positivos. É equilibrar as ideias disruptivas com manutenção de longo prazo e ajudar a equipe a sentir-se estimulada mesmo em períodos estáveis. Para isso, é preciso tanto ensinar como ouvir e aprender. O líder também precisa entender seus próprios limites – físicos, intelectuais e emocionais – e os de sua equipe, mantendo o ambiente balanceado e fazendo com que o trabalho flua de maneira tranquila.

Repense o poder e a responsabilidade

No primeiro quadrinho já escrito sobre o Homem-Aranha, o tio de Peter Parker, Ben diz ao sobrinho que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Ao ignorar este conselho, o rapaz acaba vendo o tio morrer pelas mãos de um ladrão que ele poderia ter detido. E assim, Peter Parker acaba se tornando o Homem-Aranha.

Se você está se perguntando o que isso tem a ver com todas as mudanças que estamos vivendo, é simples: hoje, pessoas e empresas tem grandes poderes. O alcance midiático através das redes sociais, o poder que as empresas tem de manipular governos, a importância da cadeia produtiva para o desenvolvimento dos países, todos esses são fatores de poder. Consequentemente, demandam responsabilidade e ação.

Usar todo esse poder para gerar um mudanças significativas no mundo, seja na forma de produção, nas condições trabalhistas ou em qualquer outra área que as empresas desejem se envolver é um passo e tanto nesta ansiada transformação. Usar o poder com responsabilidade, sensibilidade e empatia é essencial para aqueles que não querem se perder neste novo mundo que está se construindo.

Apresente sua resposta

Agora você já entendeu seu consumidor e passou a repensar áreas essenciais da sua estrutura empresarial. A resposta natural a isso é a mudança. Talvez essa seja uma transformação lenta, uma vez que envolve a cultura empresarial, mas deve ser precisa e vir de dentro pra fora, respondendo a anseios internos para atender aos desejos externos, dos clientes.

Reformule seu papel

Entenda que você pode fazer muita coisa, mas que o conjunto é mais importante. Escolha um objetivo social e invista não apenas nele, mas nas pessoas que estão interessadas neste mesmo objetivo. Não é mais apenas sobre sua empresa, mas sobre a transformação do mundo.

Dê poder ao seu consumidor

Faça com que seu consumidor se sinta maior e mais forte. Não ofereça apenas um bom produto ou uma excelente experiência, mas um propósito. Faça ele sentir que faz parte do processo e de suas preocupações para além do ato de compra.

Humanize sua organização

Lembre-se, você está gerindo pessoas. Dê poder e respeito a elas, especialmente a quem lida diretamente com o cliente. Mais uma vez, sentir-se incluído auxilia a criar laços de confiança e comprometimento. Um funcionário satisfeito é mais conectado ao propósito da empresa e gera melhores resultados – além de propaganda espontânea.